quinta-feira, 1 de abril de 2021

Ditadura nunca mais: Pensadores, Pensadoras e a Geografia

    Os geógrafos e geógrafas tem o papel social de reforçar a consciência histórica acerca da ditadura militar. O regime foi cerceador das liberdades coletivas e individuais, massacrando os que se opunham à sua ideologia. 

    Defensores de políticas em prol da classe trabalhadora foram silenciados. Os melhores pensadores progressistas foram expulsos do país: Milton Santos, maior geógrafo brasileiro; Darcy Ribeiro, um dos maiores antropólogos e sociólogos brasileiros, idealizador da UnB; Josué de Castro, autor de Geografia da fome, que ousou afirmar que a maioria das doenças do povo advinha da fome. 

    O Ato Institucional nº 1 trazia em sua lista de expulsos do país ninguém menos que Celso Furtado, o economista que fundou a Sudene e sonhou com o desenvolvimento do Nordeste. Paulo Freire, o pernambucano que acreditou numa educação emancipatória do ser humano, autor brasileiro mais traduzido no mundo, foi perseguido e exilado. Pesquisadores da Fiocruz acharam graça quando lhes disseram em primeiro de abril de 1964 que suas demissões eram brincadeira do dia da mentira. Não era. 

    As vozes de Caetano Veloso, Milton Nascimento e tantas outras foram caladas. Glauber Rocha, maior cineasta brasileiro, foi obrigado a se exilar em 1971, nunca mais voltando ao país. Milhares foram torturados e mortos. Entre esses homens, muitas mulheres também lutaram por ideais elevados e foram perseguidas; não termos seus nomes entre os mais destacados reflete a estrutura social brasileira, proibitiva da ascensão social das mulheres, que num regime autoritário é tornado normal e piorado. 

    Na economia, o regime colocou o Estado a serviço do capital, dispondo crédito às multinacionais e financiando programas de modernização da agricultura para médios e grandes proprietários de terras, enquanto colocava as forças policiais no encalço dos desvalidos trabalhadores do campo e suas famílias. 

    A migração para as cidades, desprovidas de infraestrutura e esquecidas pelo Estado, foi a única opção para milhões de brasileiros. O “milagre econômico” se deu a custas do endividamento nacional e do aumento da desigualdade social. As contradições sociais, já escancaradas antes do Golpe, foram ampliadas. 

    O velho Chico Oliveira enxergou o país como um ornitorrinco: bicho que surge como a mistura de muitos outros, que não poderia ter dado certo, mas que está aí para quem quiser ver. O que o(a)s cientistas sociais em geral e geógrafos e geógrafas tem a ver com isso? Somos sentinelas da consciência histórica. 

    Às falácias que distorcem os fatos e exaltam o autoritarismo temos o dever de contrapor o que já foi provado por diversos ângulos: a institucionalização da violência nunca pode ser uma opção numa sociedade minimamente civilizada. 

    No atual momento, em que, surpreendentemente, a ditadura é apontada como solução por parte do governo, setores da sociedade e dos militares, a História precisa ser mais que nunca mostrada, declarada, valorizada. A dignidade humana, o respeito às diferenças, o combate à miséria são valores inalienáveis e devem sempre ser defendidos, estar no nosso horizonte, ser nossa esperança. Ditadura nunca mais!





Texto Produzido Por: Prof. Dr. Antônio dos Anjos

Doutor em Geografia
Professor Do Curso de Geografia da UEG de Iporá


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